Review - Morte Súbita

domingo, 30 de dezembro de 2012




Morte Súbita
J. K. Rowling
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 501
ISBN: 9788520932537

Então vamos lá! Esse foi um dos livros mais polêmicos de 2012, e por isso achei que foi uma ironia do destino essa resenha ter ficado para a última do ano. Antes de mais nada, devo dizer que essa resenha seria em formato de vídeo, mas eu acho que não seria capaz de expressar tudo o que eu queria passar em um vídeo.

Por isso, as emoções aqui estão rolando soltas. Enquanto eu escrevo isso, já estou pensando nas outras 5000 coisas que tenho que dizer sobre o livro, e sobre tudo o que ele me fez refletir. Se você espera uma resenha de um simples fan-boy, uma resenha bobinha ou mesmo algo que critique o livro pela quantidade de sexo que ele contém, feche essa página agora e vá ler alguma outra coisa. Este é um livro que fala sobre a crueza humana, e sua resenha precisa de uma crueza e de uma dureza total.


Sinopse: Quando Barry Fairbrother morre inesperadamente em seus quarenta e poucos anos, a pequena cidade de Pagford é deixada em estado de choque. Pagford é, aparentemente, um idílio inglês, com uma praça mercante, calçada com paralelepípedos e uma antiga abadia, mas o que está por trás da fachada bonita é uma cidade em guerra. Ricos em guerra com os pobres, os adolescentes em guerra com seus pais, esposas em guerra com seus maridos, professores em guerra com os seus alunos… Pagford não é o que parece à primeira vista. E o lugar vazio deixado por Barry no Conselho Paroquial logo se torna o catalisador para a maior guerra que a cidade já viu. Quem triunfará em uma eleição repleta de duplicidade, paixão, e revelações inesperadas?

Por mais que tenha lido várias vezes que o livro era muito chato e ter chegado à conclusão de que eu não deveria lê-lo, decidi me aventurar. Pedi para os meus pais de Natal, e confesso que estava bastante ansioso para recebê-lo no dia 24, mas sem nenhuma expectativa com a história. Queria apenas tê-lo em mãos porque era o mais novo livro da J. K. Rowling, e acho que essa era a única empolgação. Pensava em colocá-lo na prateleira ao lado dos Harry Potter (sério, sou só eu que imagino os livros na minha prateleira quando estou na livraria? Não pode ser!). A história não me atraía muito.

Porém, pude constatar algo incrível ao abrir aquele pequeno universo chamado Pagford: as páginas viravam, as coisas aconteciam, meus olhos não desgrudavam e eu pedia por mais, MAIS, MAIS. Não sei direito se foi o fascínio pela escrita de J.K., algo que sempre me deu ao ler a série Harry Potter, não sei se foi algo relacionado ao tema ou à abordagem dada aos personagens. Apenas sei que foi um dos melhores livros que li em 2012.

De início, pensei que teria problemas em lembrar os nomes dos personagens da trama (PORQUE ELES SÃO MUITOS!) e o papel que cada um deles exercia, e acho que essa foi uma das maiores bobagens que poderiam ter passado pela minha cabeça. Barry, o homem que morre, Mary, sua mulher e seus filhos. Tudo começa com eles. E depois disso, como que numa rede sem fim, J.K. nos apresenta novos personagens, interliga todos eles e nos faz lembrar de cada um como se conhecêssemos há anos. Me sentia íntimo de quase todos eles, sabendo e conhecendo todas as barreiras, todos os medos, todos os princípios e, principalmente, os preconceitos. Saberia citar, de cabeça, o nome de todos eles e sua filiação apresentada no livro. Além disso, saberia dizer a importância, os valores e os defeitos que cada um deles possuía.

Um segundo ponto que me preocupava era a velocidade da narrativa, algo que eu sempre procuro analisar nos livros que leio. Prefiro sempre livros com narrativas velozes e cheias de acontecimentos, e a ausência disso sempre me fez desistir de alguns livros. E qual foi o meu espanto ao perceber que a narrativa do livro NÃO ERA nem um pouco parada. Acontecimentos, por mais que bem pequenos, povoavam as páginas. Tudo ali me dava um sabor novo e um novo interesse em qual o rumo a história iria ter. Você pode até pensar que não é verdade, "porque afinal, esse é um livro sobre uma cidade pequena, e o máximo de aventura que pode existir é uma mulher se queimar ao passar a roupa". Mas fica bem claro que os problemas de Pagford são muito maiores que estes, e que todos os personagens tem complexos e dilemas gigantescos.

Depois de me acostumar com a ideia de ter um livro novo da minha escritora predileta, delicioso, bem ali em cima da minha mesinha de cabeceira, nada mais pôde me desgrudar dele. Pelo fato de estar trabalhando, as horas disponíveis para leitura eram bem limitadas, mas para um livro de 500 páginas, li muito rápido. Terminei o livro em 5 dias, e teria terminado em menos se tivesse tempo.

A história é bem complexa, e os personagens tem várias facetas, sem exceções. Todos eles possuem a imagem boa, que nos faz fazer aquelas anotações mentais inconscientes do tipo "Acho a maneira como essa pessoa leva a vida aceitável", e logo depois vemos uma parte totalmente sombria e obscura, bem escondida, que nos faz reconsiderar o "aceitável". Temos viciados em drogas, em bebidas, em comida, em violência, em sexo, em poder, etc. Além disso, temos as facetas boas, em que as pessoas são honestas, generosas, bondosas, solidárias, protetoras e por aí vai.

Acho que essa resenha já está ficando bem grande, e provavelmente pelo fato de ela não ter gifs, poucas pessoas vão chegar até aqui. Acho que gifs não caberiam muito bem, porque esse é um livro muito denso e muito sério, sobre a realidade humana atual. Sobre a desvalorização dos valores, sobre o desvirtuamento de algo que um dia chamamos de relações pessoais. Sobre um mundo no qual, infelizmente, vivemos, e que seríamos felizes se fosse apenas um universo distante do nosso, onde olharíamos para Pagford e para todas as suas intrigas e diríamos "Ufa, ainda bem que não temos disso por aqui", enquanto cavalgaríamos em nossos pôneis azuis em campinas verdejantes, colhendo maçãs em cestas de vime e rindo de nada em especial, tudo sob um sol agradável e sorridente.

Muita gente (ei, eu sei quem está lendo isso, não sou ingênuo!) pode dizer que sou hipócrita por dizer tudo isso por aqui. Mas não acho. Cada um segue com a sua opinião e eu, particularmente, sigo com a minha, de que, se não era a intenção de J. K, aconteceu por acaso: o livro acaba mostrando um lado do mundo sem valor algum, "que desaba sobre o peso de si mesmo".

E, UM ÚLTIMO ADENDO (sem indiretas agora, eu juro): Pra quem disse que o livro é terrivelmente parado ou que contém cenas de sexo demais, não conseguiu entender nada do que leu. (Digo isso por conta de várias resenhas do livro que li (e ajudei a traduzir algumas delas!) lá no Potterish. Clique aqui para ver) E por favor, alguém ache alguma coisa naquele livro que seja sexo com eroticidade, porque todas as cenas contendo isso pareciam ter (e acho que essa era a intenção da J. K.) um ar repugnante.


FELIZ 2013 PARA TODOS VOCÊS! E que 2013 seja tudo aquilo que 2012 não conseguiu ser!


P.S.: Algumas pessoas particularmente maldosas de outros blogs podem dizer que fiz essa resenha toda bonita e sentimental porque a editora do livro é uma das parceiras do blog. Digo com o maior orgulho: a editora não mandou o livro para resenha, nem para sorteio ou para promoção. Eu comprei porque quis, li porque quis, estou fazendo resenha porque quis. Então, valeu. Volte sempre!